João, o Maestro, de Mauro Lima, como vocês sabem, é a cinebio de João Carlos Martins, cuja vida dá mesmo um romance. O filme, sem ser grande, me surpreendeu de maneira positiva.
O esquema é aquele da redenção, da segunda chance, tão cara ao cinemão. O maestro é visto como menino prodígio do piano, depois jovem concertista, mulherengo, homem de sucesso cosmopolita, até o dia em que resolve bater uma bolinha no Central Park com os jogadores do seu time de coração, a Portuguesa de Desportos, e, numa queda, lesa o nervo do braço. Compromete a mão direita.
Há então a saga da recuperação, novos problemas, nova volta por cima, até a solução encontrada para viver no mundo da música sem depender da agilidade dos dedos, que não mais lhe obedecem.
Bem reconstruído pelos três atores que acompanham o fio da sua vida – Davi Campolongo, Rodrigo Pandolfo, Alexandre Nero – o percurso de Martins revela o traço obsessivo, que é propício ao seu métier, mas também o grau de persistência incomum com que enfrenta adversidades.
Um tanto de humor tenta quebrar a solenidade do relato, com sucesso em algumas ocasiões. Poderia se poupar do desfecho institucional, mas foi imposição de quem garantiu a viabilidade financeira de um projeto complicado, com filmagens no exterior (Nova York e Montevidéu).
Em todo caso, entra-se no filme pela personalidade do maestro (entretanto pouco explorada em suas contradições) e pela música – esta sim, divina e arrebatadora.