Brasília 2017. A pegada libertária de ‘A Moça do Calendário’


BRASÍLIA – Ocupado demais com a mostra competitiva, tive de deixar para falar depois de uma pequena joia que vimos ontem à tarde, A Moça do Calendário, de Helena Ignez. Passou fora de concurso, mesmo porque Helena é avó de Sara Rocha, uma das organizadoras do festival, o que significaria conflito de interesses.

Enfim, Helena é a musa permanente do cinema brasileiro (A Mulher de Todos, O Padre e a Moça, etc, etc e tal), grande atriz e cineasta inventiva. Neste filme, ela parte de um roteiro deixado por Rogério Sganzerla. Mexeu muito no texto, atualizou-o, disse sua filha Djin Sganzerla, que também está no filme.

Djin faz a tal moça do calendário, que aparece nos sonhos e nas fantasias do protagonista, Inácio (André Guerreiro Lopes), ex-gari, que trabalha mal e mal numa oficina mecânica.

O filme se solta numa liberdade narrativa e visual difícil de ser encontrada. Tem algumas sequências de antologia, como a volta de bicicleta por uma São Paulo central que, de súbito, adquire insuspeitada beleza. Há outras cenas, igualmente filmadas com inspiração. De minha parte, poucas vezes vi a Praça da República e a vetusta Escola Caetano de Campos (onde estudei) filmadas com tanto lirismo.

Embebido de várias influências, entre as quais a leitura de A Sociedade do Cansaço, do coreano-alemão Byung-Chul Han, o filme exala uma rara vitalidade.

Há filmes que falam da liberdade, sem exercê-la. Outros, muitíssimo difíceis de ser encontrados, são libertários em sua essência. A Moça do Calendário é dessa segunda família.

 

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