Foto de Aline Arruda
São Miguel do Gostoso/RN
E quem ganhou a 4ª Mostra de Cinema de Gostoso foi Escolas em Luta (SP), de Eduardo Consonni, Rodrigo Marques e Tiago Tambelli, que levou o Troféu Luís da Câmara Cascudo. No Fim de Tudo (RN), de Victor Ciríaco, foi o melhor curta. Tudo no voto popular, que é o que vale por aqui. Não tem júri oficial.
Gabriel e a Montanha (RJ), de Fellipe Barbosa, e Leningrado (RN), de Dênia Cruz, também foram reconhecidos na cerimônia realizada na Praia do Maceió. O primeiro levou uma menção honrosa e o segundo ganhou da empresa Mistika Imput prêmio de R$ 8 mil para ser usado no próximo filme da diretora.
A cerimônia terminou de modo rápido e em clima alto astral, bem no jeitão informal de Gostoso, e foi seguida da exibição do documentário Jonas e o Circo sem Lona, de Paula Gomes, muito curtido pela plateia.
Ao receber o troféu, o diretor Rodrigo Marques se disse muito surpreso. De fato, o filme que fala da luta de estudantes secundaristas de São Paulo contra o projeto de desativação de escolas, não tem jeito de ser lá muito popular, como qualquer outro filme considerado “político”.
Mas talvez haja aí um equívoco, porque o público de Gostoso de fato se envolveu com a coragem e o idealismo da garotada, identificou-se com os alunos rebeldes, entendeu que sua luta era justa e, como prêmio, votou no filme.
O reconhecimento a Gabriel e a Montanha também foi legal. É aquele tipo (raro) de filme que cresce a cada vez em que é revisto. Ao invés de aparecerem defeitos, surgem novas nuances e qualidades.
O mesmo se pode dizer de Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, que foi apresentado na última noite da mostra competitiva. Fica cada vez melhor.
Sobre os dois curtas do Rio Grande do Norte premiados, deve-se dizer que atestam a boa qualidade do cinema que está sendo feito naquele Estado.
Sem qualquer pieguice, No Fim de Tudo, de Victor Ciríaco, mostra uma personagem transgênero que cuida da mãe idosa – o afeto familiar aparece como defesa possível contra uma sociedade preconceituosa e agressiva. Comove.
O outro, Leningrado, de Dênia Cruz, fala de um bairro de Natal que recebeu o nome da cidade russa a partir da sugestão de um militante de esquerda. Através de depoimentos, reconstitui a luta pela moradia como um dos direitos fundamentais do ser humano. Inova, com uma narração em russo, que articula as lutas revolucionárias do passado (a partir do nome do bairro) e as batalhas contemporâneas por algo que deveria ser o direito mais óbvio de qualquer ser humano.
Os cinco dias de festival foram muito agradáveis. Há um astral bem peculiar em Gostoso, que o distingue de outros festivais. Muita coisa deve contribuir para isso. Da curadoria precisa de Eugênio Puppo e Matheus Sundfeld ao fato de se realizar numa cidade pequena e calorosa. Não tem júri oficial, nem prêmios mirabolantes em dinheiro. As pessoas não se sentem em competição e daí que o clima não é tenso. Em Gostoso faz-se amigos e não inimigos.
Esse astral vai desde as descontraídas sessões pé-na-areia no cinema da Praia do Maceió até os debates, que ganham tom ameno e humanista sem perderem em riqueza de ideias.
Compare-se Gostoso, por exemplo, ao ambiente tóxico dos debates do último Festival de Brasília ou ao ar pesado de outros festivais, divididos por milícias antagônicas de críticos hostis.
Gostoso é um refresco. Tomara continue assim.