Odisseia: Cousteau, um Ulisses moderno?


Décadas atrás, Jacques-Yves Cousteau (1910-1997) tornou-se personalidade mundial com suas aventuras no navio Calypso, o amor pelo mar e a defesa da ecologia. Em A Odisseia, o diretor Jérôme Salle busca recriar, em tons ficcionais, a saga do Comandante e sua família.

Cousteau (Lambert Wilson) é visto a princípio como um idealista, que se aventura pelos oceanos com esposa (Audrey Tautou) e os filhos a bordo. O filme traz imagens magníficas da fauna marinha, fotografada em detalhe pelos Cousteau. Narra aventuras perigosas, como a exploração do pólo, com uma embarcação pouco adaptada às extremas exigências do gelo antártico.

Apenas do caráter épico de sua figura, Cousteau não é tratado como santo pelo filme.  Pelo contrário: suas contradições são expostas de maneira evidente e constante. Aventureiro no mar e mulherengo em terra, Cousteau tinha também tino comercial e acabou por se render às exigências do espetáculo, em prejuízo da ciência e da causa ecológica. Longe de ser um Ulisses moderno, deixava sua Penélope a bordo, tecendo amargura enquanto percorria outros mares, atrás de dinheiro e aventuras outras.

O filme expõe as tensas relações familiares do Comandante com a esposa e filhos, e não deixa escapar uma redenção final, sempre bem-vinda pelos produtores em filmes do gênero. Apesar de algumas concessões, A Odisseia é bom programa e vê-se com gosto. Não mistifica e nem desmitifica. Retrata, por vezes de modo um tanto chapado, um personagem singular da nossa época.

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