O Ano Secreto de Ernesto Che Guevara


1965 é uma espécie de buraco negro na biografia de Ernesto Guevara. Uma das figuras mundiais mais notórias, desde a Revolução Cubana de 1959, o Che parecia ter sumido do mapa. Na verdade, preparava-se para outras aventuras revolucionárias, na África e, depois, na Bolívia. Devia permanecer incógnito, apesar de ser um dos rostos mais manjados do planeta. Em Che, Memórias de um Ano Secreto, a diretora Margarita Hernández procura levantar o que foi esse último tempo de vida do guerrilheiro, morto em 9 de outubro de 1967, na Bolívia, quando tentava implantar uma guerrilha no país.

A ideia inicial de Margarita era fazer um documentário sobre um certo Dr. Luis Carlos Garcia Gutiérrez, um dentista cubano, que todos conheciam pelo apelido de Fisín. Ora, Fisín era apenas um dentista de celebridades nos tempos do ditador Fulgêncio Batista. Era quem remodelava a dentição dos ricos e famosos e também das coristas do Tropicana, que precisavam de belos sorrisos para sua profissão.

Fisín aderiu à Revolução, tornou-se membro do Partido Comunista e, o que poucos sabiam, funcionário do Serviço Secreto cubano. Foi designado para “disfarçar” o Che, que precisava se deslocar pela Europa depois do fracasso da guerrilha no Congo, voltar incógnito a Cuba e preparar-se para a campanha na Bolívia. Fisín este com o Che na África e na então Checoslováquia e o deixou irreconhecível. Cortou as melenas famosas do guerrilheiro e raspou-lhe a barba. Providenciou óculos de fundo de garrafa e saltos para que parecesse mais alto. Toque final na obra-prima, uma prótese dentária que tornava a mandíbula proeminente e arrebitava o nariz. Nem os auxiliares mais íntimos do Che o reconheciam. Sua mulher foi visitá-lo e estranhou aquele homem que se dirigia a ela com tanta intimidade.

Acontece que a direção do documentário foi prevista pelo próprio Fisín. “Você vai começar a fazer um filme comigo e vai terminar fazendo um sobre o Che”, disse. Dito e feito. Jamais o Che poderia entrar como coadjuvante num filme de que fizesse parte. Sua personalidade era forte demais para isso.

O filme é muito revelador. Inclui depoimentos do agentes secretos que acompanharam o Che em seus últimos percursos. Testemunham o fracasso da campanha no Congo, em ambiente hostil e culturalmente pouco propício à revolução. E o desfecho na Bolívia, quando Guevara não recebeu os apoios que esperava e viu-se sozinho em território inóspito.

​(Hoje, no É Tudo Verdade, 19h e 21h, Instituto Moreira Salles, Avenida Paulista 2424)​

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