Brasília 2018. Luna


BRASÍLIA

De novo a questão do bullying juvenil por imagens vazadas na internet. Agora com Luna, de Cris Azzi, lembrando que Ferrugem, de Aly Muritiba, com o mesmo tema venceu o há pouco encerrado Festival de Cinema de Gramado. Mas se o tema é comum, os longas divergem em vários aspectos.

Luna, a garota que na verdade se chama Luana (Eduarda Fernandes), vive sozinha com a mãe. Torna-se alvo de bullying por causa de uma imagem vazada por uma colega, em que aparece com os seios de fora.

A crise de identidade sexual da adolescência sempre marcou um período grave e difícil da vida. Com a chegada da internet, tudo ficou um pouco (ou muito) mais difícil. Se o bullying sempre existiu (embora sem esse nome específico), agora encontrou ambiente ideal nas redes sociais.

Tudo isso está na origem do drama de Luna/Luana. O filme começa num colégio, onde um professor tenta discutir com os alunos o impeachment de Dilma Rousseff. É por onde o longa coloca os pés na realidade política recente do País. Essa realidade que, ela também, não favorece qualquer tipo de equilíbrio a quem dele o necessita numa fase difícil da vida.

Mas, enfim, Luna tem outras prioridades e, em fase de maturação sexual, conhece uma garota, Emilia (Ana Clara Ligeiro) e as duas se tornam grandes amigas. Discutem se devem “ficar” para checar como é o sexo entre mulheres. E então as coisas começam a rolar, com aquela fome de experiência que faz parte da formação juvenil.

O filme tem muitos méritos. O principal, uma leveza de filmagem que capta a sensorialidade das situações. Não é rígido; é plástico. E isso faz com que o espectador possa, com mais facilidade, se colocar na posição das protagonistas, embora não tenha a mesma idade ou preocupações similares. Estabelece-se uma relação de empatia entre personagens e público. Pelo menos foi o que aconteceu no Cine Brasília.

No final, aplausos e muitos gritos entusiasmados, em especial por causa do desfecho encontrado por Luna, sentido como libertário e de afirmação de gênero feminino. O público, em especial a sua parte mais jovem e feminina, adorou. Há quem entenda que tal final se coloca de maneira um tanto artificial, para garantir aplausos e apoios. Outros acham que, de fato, a solução é libertária e escapa da lógica fatalista de filmes similares.

O fato é que Luna deu seu recado ao público e parece cinematograficamente consistente em sua estética livre, porém bem calibrada.

Obs. Como vim para o Rio a fim de participar do Grande Prêmio Brasil de Cinema, perdi o debate de Luna. Soube, no entanto, que o filme chegou a ser contestado por algumas participantes. Pensei que o final tivesse sido pensado ad hoc para satisfazer plateias feministas. Parece que não rolou…

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