La Cama é um drama argentino de Mónica Lairana, que não teria muito porque chamar a atenção.
Mostra um velho casal (nem tão velho assim, na casa dos 60 anos) que se reúne talvez pela última vez para acabar com uma antiga relação. O espectador não fica sabendo dos motivos pelos quais o casamento desandou. Fica por conta de sua imaginação construir esse “fora de campo” da história.
Mabel (Sandra Sandrini) e Jorge (Alejo Mango) se encontram na antiga casa do casal para esvaziá-la e colocá-la à venda. A famosa partilha dos objetos que se segue à separação dos corpos físicos. Entre esses objetos, um em particular, a cama que, para os casais felizes, é mais que um local confortável para dormir.
Não é raro que, nas despedidas, antigos impulsos aflorem. É, em certa medida, o que acontece entre Mabel e Jorge, dois magníficos intérpretes, diga-se de passagem.
O filme nada tem de erótico, pelo menos não no sentido mais vulgar do termo. Tem sexo? Tem. Assim como tem sexo frustrado e feito com dificuldade, pois não se trata de dois jovens apaixonados que se amam da forma aeróbica que nos acostumamos a ver no cinema. Mas, de qualquer forma, se amam. E, como diz uma famosa música brasileira, “qualquer maneira de amar vale a pena”.
Mas não é o que pensa o neomoralismo contemporâneo. Um amigo escreveu uma crítica de La Cama, postou-a e foi bloqueado no Facebook por causa de uma imagem do casal no filme. Pior: o Face bloqueou uma página de críticos justamente por causa dessa imagem – que só pode ser tachada de pornográfica por quem tem mente muito suja.
Enfim, tenho uma teoria a respeito. De fato, existe um neomoralismo por aí, um pouco em toda parte, mas no Brasil de maneira particular. No entanto, há longos anos a erotização da sociedade, e a elevação da performance sexual a algo de obrigatório, criaram espaço mais para o exibicionismo que para a discrição em matéria de sexo. Passou a ser “in” divulgar a amigos e seguidores o número de conquistas e orgasmos. Isso entre homens e mulheres, de maneira democrática.
Mas, mesmo nesta época de nudes e evasão de privacidade, certos tabus são mantidos. Um dos mais poderosos diz respeito à sexualidade entre pessoas maduras. Aquilo que é aceito entre jovens, parece indecente quando os parceiros são mais idosos. Velhinhos e velhinhas devem jogar bocha ou fazer tricô para os netos, não transar em uma cama de madeira sólida. Isso não se aceita, ora vejam!
Tenho para mim que este foi o motivo (jamais confessado, é claro) para a censura a uma foto um tanto mais caliente do casal maduro. A sociedade não suporta o sexo entre velhos e entende que a função erótica limita-se à idade reprodutiva.
Ou estarei errado?