A “elite” brasileira não aprende


Em 1964, articularam um golpe para tirar o indesejado João Goulart do poder. A ideia era de que os militares fizessem o trabalho sujo, com o caminho pavimentado por artimanhas jurídicas ad hoc, e saíssem logo de cena. Descartados Jango, “comunistas” de todos os matizes, expurgados sindicatos, Ligas Camponesas e outros indesejáveis, estariam no poder em 1965. O udenista Carlos Lacerda seria a bola da vez. Só que os milicos tiveram outra ideia e foram ficando. Em 1968 deram um golpe dentro do golpe e instalou-se uma ditadura escancarada. Só saíram de vez em 1985, deixando uma imensa ferida aberta – que não cicatrizou até hoje.
 
Em 2016 foi a vez de Dilma. Inconformada com um quarto mandato petista, a “elite” resolveu buscar os atalhos de sempre. Arranjaram um pretexto jurídico e, com a força da mídia hegemônica, da Lava Jato e de organizações de direita, impicharam a presidente. A ideia era terminar o mandato com um vice serviçal e limpar o terreno para um tucano de fina plumagem em 2018. Também não deu certo. Tudo desandou, Temer tornou-se inoperante por seus próprios problemas, o tucano da vez arrastou-se na lama, o país mergulhou numa polarização cada vez mais agressiva e, desse ambiente tóxico, saiu este ser que dispensa adjetivos e desafia definições.
 
Agora, estão incomodados com ele. Os modos presidenciais contrariam os punhos de renda do tucanato. Até Doria e Miguel Reale começam a guardar distância. A direita “civiliza-se” e espera apresentar-se como alternativa soft em 2022, diante de tanta barbárie anunciada. Mas tudo isso ainda está longe e, por agora, o mal está feito e só resta lutar para reduzir danos e evitar que o país desça de vez pelo ralo.
 
É aquela história: sabe-se como um golpe começa, não se sabe como termina. Este aqui ainda não terminou.

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