Vitória 2019: Vera Fischer


VITÓRIA/ES

Linda aos (quase) 68 anos, Vera Fischer passou por Vitória como um vendaval. Principal homenageada do festival de cinema, se disse perplexa com o “perrengue” político em que estamos metidos. Alfinetou a colega Xuxa e avisou que, ano que vem, estará de volta ao cinema – ela que não filma desde Navalha da Carne, de 1997.

Respondendo a uma pergunta do Estado, Vera se disse atônita com a atual situação do Brasil. Em particular com a relação entre o governo e a classe artística. “Eles nos odeiam, nos sentem como se fôssemos inimigos, querem nos sufocar”, disse. “Acho que eles detestam os artistas, porque estes pensam e eles odeiam gente que pensa”. “Não sei como, mas vamos precisar de um jeito para sair desse perrengue. Vamos resistir, vamos continuar a fazer nossos filmes, nossas obras”, continuou.

O caso com Xuxa se deu quando a apresentadora tirou de circulação o filme Amor Estranho Amor, no qual Vera também trabalha. A expectativa, agora, é que o filme de Walter Hugo Khouri volte à circulação. “Sem dúvida tirá-lo de cena foi uma forma de prejudicar todos os que haviam participado, do elenco aos técnicos”, disse a atriz.
Ela também se diz esperançosa de que, com um relançamento, a obra de Walter Hugo Khouri, “que anda esquecido” volte a ser apreciada. A animosidade com Xuxa parece se manter. Vera Fischer foi convidada para participar de Xuxa e os Duendes, na qual faz uma espécie de fada. “Senti-me ridícula com toda aquela maquiagem e orelhas de elfo”, ela diz. “Quando a Xuxa, nem nos olhamos no set de filmagem”.

Rivalidades à parte, Vera respondeu às perguntas de sempre sobre beleza e os preconceitos que ela pode trazer. “Me viam como uma peça de carne num açougue”, diz a sex-symbol que foi miss em Blumenau, miss Santa Catarina e Miss Brasil em 1969. Queria vencer e participou de pornochanchadas, “hoje tão inocentes”, suspira. Lembra de filmagens ou gravações na rua e da fila de homens que se formava para contemplá-la. “Dava medo”. Nunca teve problema em tirar a roupa em filmagens. “Sou alemã, não temos vergonha do corpo”.

O fato é beleza em excesso pode ter lá seus inconvenientes numa terra machista, mas abre muitas portas. Vera tem carreira super
diversificada entre cinema, teatro e TV. São 20 filmes, 21
telenovelas, 5 minisséries e 12 peças de teatro.

Ela tem lá seus favoritos, na contramão das respostas politicamente corretas. Na TV, as minisséries Riacho Doce, Desejo e Agosto. As novelas Pátria Minha, Laços de Família e Mandala. No cinema, Amor, Estranho Amor (“um filme bergmaniano”), Intimidade e Dora, Doralina, baseado em Rachel de Queiroz. No teatro, Negócios de Estado, Gata em Teto de Zinco Quente e Macbeth (“um bom autor”, ela brinca).

Entre esses destaques, ela lembra de um especial, Desejo, no qual interpreta Ana de Assis, mulher do escritor Euclides da Cunha. Euclides é morto pelo amante de Ana, Dilermando de Assis. “Eu queria esse papel mais do que tudo. Na véspera do início da gravação, fui atropelada e tive o nariz fraturado. O Ivo Pitanguy me operou e disse que eu teria de ficar dois meses de molho. O diretor falou que se em um mês eu não estivesse recuperada, ele iria trocar de atriz. E lá fui eu, com um mês de cirurgia, nariz inchado, fazer esse papel. Tiveram de gravar à distância para o inchaço não aparecer.”

Sobre seu próximo projeto, Vera diz se tratar de um história de relação mal resolvida entre mãe e filha. “Um filme de mulheres, como já quase n’ão se faz no Brasil, que ficou com uma filmografia muito masculina. Quase Alguém será dirigido por Daniel Ghivelder. Seu produtor, Márcio Rosário, disse que, se não conseguir financiamento no Brasil, por conta do anunciado desmonte da Ancine, buscará
investidores estrangeiros. “A Vera é super conhecida em outros países, inclusive na Rússia, onde há empresários que já se disseram
interessados no projeto”.

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