(Jean) Seberg contra todos


O rosto de Jean Seberg tornou-se um ícone do cinema de autor ao aparecer em Acossado (1960), de Jean-Luc Godard, um dos filmes detonadores da nouvelle vague francesa, influente no mundo todo.

Mas em Seberg Contra Todos, cinebiografia ficcional do australiano Benedict Andrew, esse papel fundamental na filmografia da
norte-americana Jean Seberg aparece apenas de passagem. Aliás, mesmo sobre a estreia, como a Joana D’Arc de Otto Preminger, em 1957, o filme é lacônico. Só o aborda quando a atriz exibe as cicatrizes deixadas por um acidente na cena da fogueira.

Na verdade, o filme concentra-se numa fase posterior de Jean Seberg, a mais crítica e mais traumática do que o acidente de filmagem com Preminger. É quando ela, casada com o escritor Romain Gary, resolve abraçar a causa do movimento negro norte-americano. Torna-se amante de Hakim Jamal (Anthony Mackey), ativista dos Panteras Negras, que ela conhece num vôo Paris-Nova York. Essa ligação é tratada de forma ambígua nas biografias da atriz, mas no filme aparece como verdade incontestável.

O que parece fora de dúvidas, porém, é aquilo que constitui o cerne da história: a perseguição à atriz, movida pelo FBI (comandado pelo famigerado J. Edgard Hoover), e que produziu abalo fatal um já precário equilíbrio psicológico.

No contexto do final dos anos 1960, expor o envolvimento entre Seberg e Jamal era uma tacada certeira do FBI contra um dos líderes negros da época. Levava junto a atriz que passara a apoiar, inclusive
financeiramente, os Panteras Negras.

Para acompanhar esse processo, o diretor Andrew cria um personagem ficcional, o agente Jack Solomon (Jack O’Connell), encarregado da vigilância da intimidade do casal. Nesse ponto, o filme desanda um pouco. O’Connell é um tipo com problemas de consciência. Faz seu trabalho, mas parece interiorizar a culpa por destruir pessoas a pretexto de servir seu país. A culpa e não a fé remove montanhas, dizia Freud. Força que transforma esse sentimento em poderoso agente da dramaturgia. Infelizmente não é este o caso e O’Connell nunca parece à altura de um personagem de fato transtornado por seus atos.

Por outro lado, Kristen Stewart compõe uma Jean Seberg muito convincente. É uma luz em cena, com sua sensualidade mas também expondo-se em sua fragilidade. A derrocada psicológica causada pela pressão do FBI expressa-se em seu rosto e corpo. Seberg morreu em 1979, aos 40 anos. Há quem duvide da tese de suicídio.

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