Comecei a explorar o streaming do Belas Artes (belasartesalacarte.com.br) por Paris vu par…(1965) e Histórias Extraordinárias (1968). Ambos do tempo em que filmes de episódios andavam na moda e reuniam grandes diretores.
O primeiro é composto de seis histórias curtas, dirigidas por Jean Douchet, Jean Rouch, Éric Rohmer, Jean-Daniel Pollet, Claude Chabrol e Jean-Luc Godard.
Jean Douchet, você sabe, é um crítico célebre, morto ano passado. É dele a reunião de críticas que leva por título seu artigo mais famoso: A Arte de Amar. Aqui o vemos numa rara aparição como diretor. E num bom filme, Saint-Germain des Prés.
O melhor deles, o mais surpreendente, é o de Jean Rouch, chamado Gare du Nord, sobre um jovem casal e suas primeiras brigas. A mulher sai à rua e é quase atropelada por um carro. O motorista desce e começa a conversar com ela. Insiste em acompanhá-la, lhe faz uma proposta. E mais não digo.
Histórias Extraordinárias tem três episódios, adaptados de contos de Edgar Allan Poe, por três diretores – Roger Vadim, Louis Malle e Federico Fellini.
Eu conhecia o de Fellini, Toby Dammit, que havia visto avulso em alguma parte que já não consigo identificar. Os dois primeiros não, embora tenha tido uma certa sensação de déjà vu ao assisti-los. Enfim, pode ser uma falsa memória, um fenômeno psicológico bastante comum.
Vadim dirige Jane Fonda em Metzengerstein. Ela é uma nobre entediada e perversa (no sentido psicanalítico do termo, não no moral) até se apaixonar por seu primo (interpretado por seu irmão, Peter Fonda) e não ser correspondida. O que lhe será fatal. Malle dirige Alain Delon em William Wilson, outro personagem do mal, numa história que envolve jogo, sadismo, punição, culpa, tudo misturado ao eterno tema do Doppelgänger, o duplo.
O curioso é que dois dos contos, Metzengerstein e William Wilson, estão de fato no livro que dá título ao filme, Histórias Extraordinárias. O outro, o de Fellini, é um conto satírico de Poe chamado Nunca Aposte a sua Cabeça com o Diabo.
Fellini se apropriou do motivo do texto e o converteu ao seu mundo próprio. Terence Stamp faz o astro inglês, drogado e bêbado, que vai filmar na Itália e enfrenta entrevistas coletivas, paparazzi e candidatas a estrelas querendo brilhar. Um ambiente misto de La Dolce Vita e 81/2. Música (sublime e irônica, as usual) de Nino Rota.
São duas amostras de um cardápio muito bom da plataforma Belas Artes à la Carte. Ao lado de filmes mais recentes, há Intolerância, de Griffith, alicerce da linguagem cinematográfica construído lá em 1916. Um clássico de Luis Buñuel como O Anjo Exterminador e nada menos que 11 títulos de Éric Rohmer, um dos integrantes do núcleo duro da nouvelle vague, incluindo seus maravilhosos Contos das Quatro Estações.
Tudo isso é de graça até dia 15. Basta entrar no site e se cadastrar. E começar a ver filmes que resistem à passagem do tempo simplesmente porque são muito bons.