Nas estreias, o drama dos imigrantes, a valentia de uma mulher e o rei dos bicheiros


Três lançamentos da semana tratam da questão da imigração e dos refugiados, um dos graves problemas contemporâneos. São eles: Berlin Alexanderplatz (Alemanha), Adu (Espanha, Netflix) e O Muro (Estados Unidos/México), na plataforma Cinema Virtual.

Estreia das salas de cinema o drama alemão Berlin Alexanderplatz, baseado na obra do escritor Alfred Döblin de 1929 e que já havia sido adaptada por Rainer Fassbinder em 1980. Trata de um pequeno marginal que tenta sobreviver em meio à caótica Berlim dos anos 1920 e 1930, palco da ascensão nazista. No filme novo, a trama é transportada para a atualidade. O personagem é Francis, um refugiado africano que tenta se virar numa sociedade racista e de poucas oportunidades a estranhos. Muito bom filme, que trata do mal-estar das sociedades contemporâneas, mesmo as mais afluentes. O filme é dirigido pelo cineasta alemão de origem afegã Burhan Qurbani.

Francis é interpretado por Welket Bungué, originário da Guiné-Bissau. Ele é conhecido do espectador brasileiro. Faz parte do elenco de Joaquim, filme do pernambucano Marcelo Gomes sobre Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira.

O espanhol Adu trata de um tema muito parecido. Adu é um garotinho que segue um longo caminho pela África, partindo de Camarões com sua irmã, para tentar chegar à Espanha. No filme há três histórias cruzadas, a de um guarda de fronteira que reprime imigrantes que tentam pular uma cerca fortificada; a de um homem que trabalha para uma ONG de proteção aos elefantes; e a de Adu, que dá nome ao filme e, afinal, resume toda a preocupação da obra, que é a de refletir sobre as injustiças sociais do mundo contemporâneo. O filme, dirigido por Salvador Calvo, tem elenco espanhol conhecido, com Luis Tosar e Ana Castillo. Mas quem rouba a cena mesmo é o garoto do Benin Moustapha Oumarou no papel de Adu.

Também O Muro, este na plataforma Cinema Virtual, vai por caminho semelhante. Uma imigrante mexicana (Crystal Hernandez) sem documentos tenta passar pela fronteira americana. Ela precisa de um emprego, dinheiro para que seu filho pequeno possa ser operado. O enredo é meio melodramático. Perto da fronteira, ela faz amizade com outro perdido da sorte – Kenny (Shane Dean), um rapaz norte-americano, veterano do Afeganistão e traumatizado pela guerra.

Brasileiros:

Duas séries bem interessantes

Os Últimos Dias de Gilda, de Gustavo Pizzi (4 episódios na Globoplay). Karine Telles interpreta a personagem do título, uma mulher livre, que vive numa comunidade espremida entre a repressão dos costumes dos evangélicos e a criminalidade local. Muito boa interpretação de Karine, que trabalhou em filmes como Benzinho (do próprio Pizzi, seu ex-marido) e Bacurau, de Kléber Mendonça Filho. Gilda celebra o poder feminino e sua capacidade de resistência em situações adversas. A série vai participar do Festival de Berlim.

Doutor Castor (4 episódios na Globoplay), de Marco Antônio Araújo, reconstitui a trajetória de Castor de Andrade (1926-1997), o rei do jogo do bicho e figura folclórica no Rio de Janeiro ao longo de décadas. Poderoso, Castor investia pesado no time do Bangu e na Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Era paparicado por jogadores, sambistas, políticos, celebridades e jornalistas enquanto construía seu império criminoso. A série mostra como existe uma tolerância social em relação a um certo tipo de criminoso e como seu poder se infiltra em várias esferas da sociedade. Tema bastante atual, já que os banqueiros do jogo do bicho “diversificaram atividades” e passaram ao tráfico de drogas e à formação de milícias, hoje instaladas no poder político e maior ameaça à democracia brasileira.

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