As veias abertas da América Latina


Duas estreias coincidem em geografia, espírito e temática. Tanto o guatemalteco A Chorona quanto o chileno Aranha falam do infindável martírio político da América Latina, exumando vítimas e seus algozes dos anos de chumbo.

Aranha, de Andrés Wood (de Machuca), evoca um grupo de extrema-direita, o Pátria y Liberdad, que ajudou a desestabilizar o governo de Salvador Allende e abriu caminho para a sangrenta ditadura de Augusto Pinochet.

Passa-se em dois tempos: na época das lutas políticas entre esquerda e direita no início dos anos 1970, e nos dias de hoje.

Os personagens do passado, estudantes impulsivos e, à sua maneira idealistas, são agora burgueses acomodados e ciosos dos seus privilégios e confortos. Com exceção de um deles, que continua a adotar a violência como o melhor atalho para impor suas ideias distorcidas.

A Chorona, de Jayro Bustamante, apropria-se de um mito dos povos originários para evocar a busca por justiça e um massacre acontecido há mais de 30 anos quando forças da repressão dizimavam povoados indígenas na caça aos guerrilheiros. Pelo mito, A Chorona é uma alma penada, que erra pelas trevas arrependida de ter matado os próprios filhos por afogamento.

No presente, o que se tem é o julgamento de um general da reserva, acusado de genocídio nos tempos da luta armada. Ele se converteu em ditador e agora, na aposentadoria, e em novos tempos do país, arrisca-se a ter de pagar por seus crimes. Vai ao tribunal, é condenado, mas a sentença é revista.

Interna-se com a família num bunker de classe alta, mas tem a casa cercada por manifestantes que exigem justiça. Uma nova criada chega à casa e coisas misteriosas começam a acontecer. A mescla de filme de gênero – terror, no caso – e thriller político funciona muito bem.

Tanto A Chorona como Aranha têm se saído muito bem em festivais em que participaram. São ótimos filmes e entram em cartaz nesta quinta-feira.

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