Em linguagem de uma carta dirigida à amiga, Ana Maria Magalhães evoca a memória de Leila Diniz, morta num acidente aéreo em 1972.
Já que ninguém me tira pra dançar é cheio de vivacidade – como era a própria Leila, uma revolucionária dos costumes em seu tempo, atriz de talento, figura carismática e encantadora, desaparecida de maneira precoce aos 27 anos de idade.
Através de depoimentos de amigas e amigos, ex-namorados, trechos de filmes, fotos e material impresso, a figura de Leila é reconstruída para quem não a conheceu. E para saudades de quem teve a sorte de ter vivido o tempo em que ela esteve entre nós.
No entanto, não eram anos dos mais agradáveis, diga-se. A maturidade de Leila deu-se em plena ditadura militar – essa mesma da qual os imbecis têm saudade. A verdade é que Leila era um dos poucos pontos de luz no mundo de trevas pelo qual atravessava o país.
Em plena ditadura, ela dava uma entrevista bombástica ao Pasquim, recheada de palavrões – que eram disfarçados por ***. Mas todo mundo sabia do que ela estava falando. E o recado era libertário.
Leila exibiu o barrigão de grávida na praia, de biquíni. O que hoje seria rotineiro, tornou-se banal a partir desse ato de coragem. Falava de quem amava e com quem transava. Dizia que era possível amar uma pessoa e dormir com outra. Enfim, todo abecedário de liberação dos anos 1960, que encontrava nela o corpo ideal para se expressar.
Os filmes a celebrizaram – como Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos de Oliveira, com quem iniciou um grande caso de amor aos 15 anos (hoje Domingos seria “cancelado”). O diretor tinha 23 anos quando namorou Leila.
Com Nelson Pereira dos Santos fez filmes como Fome de Amor e Azyllo Muito Louco – rodado em Paraty. Foram ao todo 12 longas-metragens, novelas de TV e teatro de revista, com o tropicalista Tem Banana na Banda.
Leila estava no auge quando morreu. Por que relembrá-la 50 anos depois? Porque foi exemplo acabado de que é preciso manter a alegria, mesmo em tempos sombrios. Leila é luz.