OURO PRETO – Muito bonita a abertura do Cine OP, ontem na Praça Tiradentes. Apesar da temperatura baixa, a noite foi quente com a apresentação de um grupo de múltiplas etnias na cerimônia chamada Caminhos de Pachamama. Contagiou o público diante do telão, no qual, depois da cerimônia, foram exibidos dois filmes. O média Bicicletas de Nhanderú, de Kuary Poty (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), e o curta Nossos Espíritos Seguem Chegando, de Kuary Poty e Bruno Huyer.
Bicicletas de Nhanderú é considerado, pelo cineasta e indigenista Vincent Carelli, como uma obra-prima do cinema indígena. De fato, é um mergulho poucas vezes visto na espiritualidade dos Mbyá-Guarani, da aldeia Koenju, em São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul. Perguntam a um venerando indígena se eles vêem ou ouvem os deuses. Ele responde que não é bem assim. Sente a presença deles e a expressa em palavras que vêm não sabe de onde. “Somos como bicicletas dos espíritos, nada além disso”. O filme se espraia numa narrativa curvilínea em que as digressões, desvios do caminho, fazem parte da narrativa. Muito bom.
Nossos Espíritos Seguem Chegando documenta uma gravidez em tempo de Covid, incorporando os elementos ancestrais na narrativa – como se vê na bela sequência em que mulheres de gerações diferentes preparam uma comida enquanto trocam ideias e registram a passagem do tempo e das tradições.
Ah, sim, e também não faltou o coro de “fora Bolsonaro”, que se faz ouvir em qualquer reunião de seres humanos neste país. De seres humanos, eu disse.
Um comentário em “Cine OP 2022: Festival de Ouro Preto começa, com foco nos cineastas indígenas”