Simone de Beauvoir vai ao candomblé


Na visita à Bahia, Jorge Amado levou Sartre e Simone de Beauvoir ao candomblé.

Simone ficou impressionada com o transe de algumas participantes. O que era aquilo? Descartou que fosse fingimento. Mas queria uma explicação. Um dos brasileiros presentes disse que era intervenção do sobrenatural. Pierre Verger disse o mesmo. Jorge Amado e outros não sabiam explicar.

Racionalista, como boa francesa, porém sensível, empática e engenhosa, Simone dá sua explicação. Pode ser isso, pode não ser, mas é a melhor que já li sobre o assunto. E tão bonita, que transcrevo:

“Encontramos experiências análogas em todos os lugares onde indivíduos estão divididos entre duas civilizações. Obrigados a se dobrarem ao mundo ocidental, os negros da Bahia, outrora escravos, hoje explorados, sofrem uma opressão que chega a lhes tirar a posse de si mesmos; para se defenderem, não lhes basta conservar seus costumes, suas tradições, suas crenças; eles cultivam as técnicas que os ajudam a se arrancar, através do êxtase, da personagem mentirosa na qual foram aprisionados; no instante em que parecem perder-se é que se reencontram; eles são possuídos, sim, mas por sua própria verdade. O candomblé, se não transforma os seres humanos em deuses, ao menos, através da cumplicidade de espíritos imaginários, restitui a humanidade a homens rebaixados à categoria de rebanho. O catolicismo lança os pobres de joelhos diante de Deus e de seus sacerdotes. Pelo candomblé, ao contrário, eles experimentam essa soberania que todo homem deveria poder reivindicar.”

(A Força das Coisas)

Livre de vírus. www.avast.com.
Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.