Um registro breve sobre a sessão de Marcha sobre Roma, documentário de Marc Cousins sobre o movimento que levou Benito Mussolini ao poder em 1922 – ou seja, há exatos 100 anos.
Um filme é ele e sua circunstância, com a devida licença de Ortega y Gasset. Assim sendo, não poderia passar batido o fato de que esse doc sobre a ascensão e queda do fascismo italiano esteja sendo exibido na Mostra de Cinema a poucos dias de uma eleição que define o próprio destino do país.
O público não se fez de rogado. Lotou a sala no Itaú do Shopping Frei Caneca e assistiu de fôlego contido as etapas da instalação do regime fascista na Itália, com a sua ênfase na violência, no patriotismo tacanho. Depois, a aliança com Hitler, a guerra e o fim.
O silêncio foi substituído por uma vibrante manifestação de repúdio quando, ao integrar passado e presente, Cousins põe na tela figuras do neo-fascismo contemporâneo como Trump, Erdogan…e Bolsonaro. Aos gritos de “domingo vai acabar”, a plateia saudou o possível (e provável) fim da ameaça totalitária no Brasil com a eleição de domingo.
No final, entoou a sotto voce a canção partigiana Bella Ciao, cantada na tela por Alba Rohrwacher quando sobem os créditos. Foi muito emocionante.
Quanto ao filme em si, achei maravilhoso. Cousins constroi a história do fascismo através do próprio cinema. Usando outros filmes e registros cinematográficos para compor uma verdadeira iconografia do líder autoritário. Como pesquisa e montagem, é brilhante. E, na já citada articulação entre passado e presente, Cousins mostra que o chamado pós-fascismo, ou neo-fascismo, tem muito a ver com o fascismo histórico, aquele que levou o mundo à tragédia da Segunda Guerra Mundial.
Ainda vou voltar a escrever sobre esse filme notável, em chave mais analítica. Por ora, o que posso fazer é recomendá-lo vivamente.
Um comentário em “Mostra 2022: A Marcha sobre Roma e o fascismo contemporâneo”