BRASÍLIA – Segunda noite de competição, menos épica que a primeira. Espumas ao Vento (PE), de Taciano Valério, tem por epicentro uma trupe de artistas em suas intersecções com outras dimensões da vida nacional, como a presença cada vez mais avassaladora das igrejas neopentecostais e a crise sanitária da Covid-19.
Na verdade, o filme tem a aparência de uma estrutura muito solta, aberta a improvisos, o que se confirma na entrevista dada por Valério e equipe no dia seguinte à exibição. Um dos exemplos: o personagem de Everaldo Pontes teve de ser “morto” quando o ator pegou Covid e precisou ser afastado do elenco para se cuidar. São coisas da vida e do fazer artístico. O inesperado precisa ser absorvido pelo projeto como elemento de linguagem. Nem sempre isso acontece ou é possível.
A meu ver, o filme acerta ao articular artes populares, como a dos mamulengos, à realidade da vida social, o que se intensifica na curva dramática da primeira para a segunda parte, indo do registro fantasia ao realismo mais seco. No entanto, fica a impressão de que certas partes do filme funcionam melhor do que o seu conjunto. A estrutura, muito solta, às vezes passa imagem de fragilidade e certa dispersão.
Curtas
Nossos Passos Seguirão os Seus (RJ), de Uilton Oliveira, resgata a figura esquecida de Domingos Passos, militante anarquista negro dos anos 1920. Importante na proposta, o filme esbarra na falta de material sobre o personagem. Quando isso acontece, há que investir na criatividade e na invenção, como no curta Vassourinha, de Carlos Adriano, que trabalha com material mínimo e alcança ótimo resultado.
Anticena (DF), de Tom Motta e Marisa Arraes, mostra uma cineasta tentando registrar o cotidiano de um entregador por aplicativo. Este também tem suas veleidades de cineasta. Metacinema em dose dupla, em filme de e para cinéfilos. Cai na armadilha frequente da metalinguagem, a de andar em volta de si mesma sem respiro para o mundo exterior. Consome-se na autofagia da auto-referência.
Um comentário em “Brasília 2022: Espumas ao Vento, o improviso e a estrutura”