O charme nostálgico do ‘Petit Nicolas’


Hoje não sei como é, mas quem estudou na Aliança Francesa nos anos 1970 e 1980, passou obrigatoriamente pelo Le Petit Nicolas. O livro de Sempé e Goscinny era um xodó dos professores franceses. Tenho para mim que o adotavam não apenas por razões didáticas, mas por nostalgia da pátria.

A nós, alunos, também o livro encantava. Francês coloquial, o ponto de vista da infância sobre o mundo dos adultos, os desenhos caprichados que acompanhavam a linguagem despojada de garotos de pouca idade. Era – e continua sendo – muito legal. Talvez porque evoque um dos nossos mitos recorrentes – o da infância feliz. Completamente feliz, embora com contratempos.

Com esse charme antigo, era inevitável que o Petit Nicolas fosse parar no cinema.

Tenho acompanhado as versões cinematográficas do Petit Nicolas – Pequeno Nicolau, no Brasil. Vi esta última – O Tesouro do Pequeno Nicolau, dirigida por Julien Rappeneau, filho do cara que adaptou para o cinema a peça Cyrano de Bergerac, personagem vivido por Gérard Depardieu.

Não se pode dizer que O Tesouro do Pequeno Nicolau seja grande cinema. Acho que nem se propõe a isso. É despojado, com sua história simples. Nicolau vive seu dia a dia com os colegas de escola, sua turma, quando recebe a notícia de que a família irá se mudar para outra cidade. Significa começar uma nova vida, longe dos amigos, longe da casa, do ambiente conhecido. A turma fará tudo para impedir o pai de Nicolau de aceitar o novo posto na empresa e a mudança para o sul do país.

Tudo é um pouco ingênuo, e está muito bem que seja assim para um filme desse tipo. Não é destinado diretamente a nós, adultos, mas às crianças. E talvez às crianças que um dia fomos.

Tem esse ar meio nostálgico de uma França dos anos 1950, por aí. Uma vida pequeno burguesa, com seus transtornos aqui e ali, mas nada de muito radical. Evoca o imaginário de uma vida mais calma, mais previsível, talvez mais hipócrita, em que conflitos e desigualdades eram escrupulosamente varridos para debaixo do tapete. De vez em quando é bom voltar a isso, sabendo que se trata de uma fábula feliz e nada além disso.

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