
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo sai na frente na corrida do Oscar, ao menos em número de indicações – 11, incluindo as de melhor filme e direção. Os Banshees de Inisherin e Nada de Novo no Front ficaram com nove indicações, e Elvis, com oito.
O que pode significar tantas indicações para uma “obra” que mais parece videogame que filme de cinema para valer? Para uma ficção científica que dialoga com o metaverso, mas que nem de longe passa perto de clássicos do gênero que expandem nossa maneira de ver o mundo baseando-se em especulações científicas, como são os casos de 2001 – Uma Odisseia no Espaço ou Solaris? Bem, pode expressar a crise de criatividade do cinema atual, ainda mais quando pensamos que ganha a companhia da continuação de Avatar (O Caminho das Águas) entre seus concorrentes a melhor filme.
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (que alguém já rebatizou de Nada em Nenhum Lugar em Tempo Algum) tem concorrentes sólidos para sua, digamos, “estética” delirante. A começar por Nada de Novo no Front, de Edward Berger, densa adaptação da obra de Erich Maria Remarque sobre os horrores da Primeira Guerra Mundial. Ou o memorialístico Os Fabelmans, sobre a infância de Spielberg e a descoberta de seu amor pelo cinema. Convencional mas bonito. Ou mesmo a cinebiografia inventiva de Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann.
O irlandês Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh, é um filme estranho, porém tem seduzido parte da crítica. Fala do súbito rompimento de uma amizade, tendo por pano de fundo uma guerra da qual se ouvem apenas rumores distantes. Num tempo explícito, sabe ser alusivo.
Tár, de Todd Field, é uma presença marcante, em especial por Cate Blanchett que faz uma maestrina durona e em crise por suas próprias contradições. Discute música, política, gênero, numa trama tensa puxada por sua extraordinária protagonista, favorita para o prêmio de melhor atriz. Entre Mulheres entra na cota #Metoo. E, por contraste, Top Gun: Maverick, na do saudosismo machista.
Tirando essa enganação de sucesso que é Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o mais destoante dos dez indicados a melhor filme é o sueco Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund, Palma de Ouro em Cannes. Östulund é um diretor que tem ideias, o que já joga contra ele. Imagina um casal de modelos que embarca num cruzeiro de luxo, sofre um naufrágio e sobrevive em uma ilha com outros passageiros. A recriação de uma espécie de sociedade primitiva serve como crítica à hipocrisia da nossa. Um tanto de escatologia se soma a uma crítica social que se torna bastante rudimentar, se vista com certo rigor.
Por fim, algumas palavras sobre a categoria filme internacional, esse sonho de consumo brasileiro, sempre distante. Categoria difícil, com filmes fortes como Nada de Novo no Front, que disputa igualmente na categoria principal, a de melhor filme. No pareo, o singelo e maravilhoso Eo, do veterano polonês Jerzy Skolimowski, releitura do clássico Au Hasard, Balthazar, de Robert Bresson, o nosso mundo impiedoso visto pelo olhar de um burrico.
No entanto, entre os filmes internacionais surge com força Argentina, 1985, de Santiago Mitre, sobre o julgamento dos militares argentinos por crimes cometidos durante a ditadura. Num momento em que a democracia parece em xeque em várias partes do mundo, essa produção sólida e politicamente madura, protagonizada por Ricardo Darín, pode dar mais uma estatueta de Hollywood ao cinema dos nossos hermanos.
Principais categorias
Melhor filme
Nada de novo no front (Netflix)
Avatar – O caminho da água (Disney)
Os banshees de Inisherin (Disney)
Elvis (Warner)
Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Diamond/Galeria)
Os Fabelmans (Universal)
Tár (Universal)
Top Gun – Maverick (Paramount)
Triângulo da tristeza (Diamond/Galeria)
Entre mulheres (Universal)
Direção
Martin McDonagh – Os banshees de Inisherin (Disney)
Daniel Kwan e Daniel Scheinert – Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Diamond/Galeria)
Steven Spielberg- Os Fabelmans (Universal)
Todd Field – Tár (Universal)
Ruben Östlund – Triângulo da tristeza (Diamond/Galeria)
Melhor atriz
Cate Blanchett – Tár (Universal)
Ana de Armas – Blonde (Netflix)
Andrea Riseborough – To Leslie
Michelle Williams – Os Fabelmans (Universal)
Michelle Yeoh – Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Diamond/Galeria)
Melhor ator
Austin Butler – Elvis (Warner)
Colin Farell – Os banshees de Inisherin (Disney)
Brendan Fraser – A baleia (California)
Paul Mescal – Aftersun (O2 Play/Mubi)
Bill Nighy – Living
Melhor ator coadjuvante
Brendan Gleeson – Os banshees de Inisherin (Disney)
Brian Tyree Henry – Passagem (AppleTV+)
Judd Hirsch – Os Fabelmans (Universal)
Barry Keoghan – Os banshees de Inisherin (Disney)
Ke Huy Quan – Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Diamond/Galeria)
Melhor atriz coadjuvante
Angela Bassett – Pantera Negra – Wakanda para sempre (Disney)
Hong Chau – A baleia (California)
Kerry Condon – Os banshees de Inisherin (Disney)
Jamie Lee Curtis – Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Diamond/Galeria)
Stephanie Hsu – Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Diamond/Galeria)
Melhor roteiro original
Os banshees de Inisherin (Disney)
Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo(Diamond/Galeria)
Os Fabelmans (Warner)
Tár (Universal)
Triângulo da tristeza (Diamond/Galeria)
Melhor roteiro adaptado
Nada de novo no front (Netflix)
Glass Onion – Um mistério Knives Out (Netflix)
Living
Top Gun – Maverick (Paramount)
Entre mulheres (Universal)
Melhor filme internacional
Argentina, 1985 – Argentina (Prime Video)
Nada de novo no front – Alemanha (Netflix)
Close – Bélgica (O2 Play/Mubi)
EO – Polônia
The quiet girl – Irlanda
Melhor longa de animação
Pinóquio por Guillermo del Toro (Netflix)
Marcel the shell with shoes on
Gato de Botas 2 – O último pedido (Universal)
A fera do mar (Netflix)
Red – Crescer é uma fera (Disney+)
Melhor documentário (longa-metragem)
All that breathes
All the beauty and the bloodshed (Diamond/Galeria)
Vulcão – Uma história de amor (Disney+)
A house made of splinters
Navalny (HBOMax)