Um Gosto de Mel


A mostra Cinema Novo Britânico terminou mas gostaria ainda de comentar Um Gosto de Mel, de Tony Richardson (1961).

O filme é tirado de uma peça de Shelagh Delaney, que fez enorme sucesso na época. Quando a escreveu, a autora tinha mais ou menos a idade da personagem principal do filme, Jo, vivida pela incrível Rita Tushingham.

Dizem que Richardson procurou uma garota feiosa para o papel de Jo. De fato, a sofrida filha da classe trabalhadora não cairia bem numa beldade. Mas Rita não é feia. E compensa em graça o possível déficit estético buscado pelo diretor. Ela tem luz.

Jo vive com a mãe, uma estroina, e engata namoro com um marinheiro negro, que embarca no dia seguinte ao primeiro encontro íntimo dos dois.

Como a mãe arruma novo parceiro, Jo vai se virar sozinha. Arruma emprego numa sapataria e aluga um quarto num lugar distante e sem graça. Conhece, na loja, um rapaz homossexual, que, no entanto, tem verdadeira devoção por ela.

A peça é adaptada para a tela segundo o estilo do Free Cinema. Paisagens cruas, um mundo cinza e hostil. Personagens à beira do abismo. Nenhuma concessão ao melodrama. No entanto, a graça de Rita, natural ou orientada pelo diretor, supera tudo.

Mas o que se deseja é deixar mesmo esse travo amargo na boca. A classe trabalhadora em seu cotidiano sem grandes esperanças de um dia sentir esse ambicionado gosto de mel. Ele é apenas um sonho, uma ilusão passageira, ou algo que se experimenta uma vez na vida e é só. Um filme que dificilmente a gente esquece

4 comentários em “Um Gosto de Mel

  1. Sempre uma honra acompanha.lo, grata surpresa encontrar um texto sobre esse maravilhoso filme. Lembro te.lo visto muitos anos atrás nesses corujões da Globo. Vasculhei por anos até finalmente encontrar o título. Interessante ver que os atores ganharam Cannes no mesmo ano de Pagador de Promessa. Esse filme me marcou por anos e Ainda marca. Abrçs. Excelente trabalho.

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  2. a peça original é um típico “kitchen sink play”, ou seja, peça de pia de cozinha, um gênero inglês por excelência, que teve sua origem na pintura, passou pelo teatro e foi fartamente explorado pelos cineastas britânicos dos anos 1960. Há sempre uma cena passada em uma cozinha em todos esses filmes. É onde a working class melhor expõe suas angústias.

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