Olhar 2024: Entre os prêmios, alguns acertos, mas também equívocos e omissões. Quem entende o que pensam os júris?


Diário crítico (8)

CURITIBA – O Olhar de Cinema já terminou, com a vitória de Greice na competitiva nacional e Pepe, na internacional.

Quero apenas dar um fecho nesta cobertura para dizer da minha estranheza por algumas premiações e certas ausências. Nada contra Greice, um filme jovem de Leonardo Mouramateus, simpático e com potencial de público. Mas era para ganhar o festival?

Acho que haveria alternativas mais estimulantes, como A Mensageira, com seu aprofundamento kafkiano sobre o absurdo da justiça, e, ao mesmo tempo, fazendo um recorte racial muito interessante. Bem filmado, parece fruto de reflexão cinematográfica do seu diretor, Cláudio Marques. Recebeu apenas o prêmio de som.

Mais grave, a meu ver, foi o esquecimento de Rancho da Goiabada, de Guilherme Martins, um mix de doc e ficção que entra no mundo precarizado do trabalho com muita inspiração e sentimento. Saiu de mãos abanando.

Assim como o belo longa local, O Sol das Mariposas, de Fábio Allon, que tampouco foi lembrado. Tem feitio clássico (não acadêmico) e isso pode ter lhe prejudicado. Filmes bem feitos, imagens com foco, boas atuações, etc, em geral são descartados pelos júris atuais.

Por outro lado, gostei do destaque dado ao doc Tijolo por Tijolo, que ficou com melhor direção (Victoria Álvares e Quentin Delaroche), uma imersão criativa e carinhosa na inventividade popular em tempos difíceis – para as classes populares os tempos são sempre difíceis, aliás. Ganhou também o troféu de montagem.

Entre os internacionais, os premiados pelo júri oficial foram o bizarro Pepe, do dominicano Nelson de los Santos Arias, sobre os hipopótamos importados pelo traficante Pablo Escobar, que obteve o troféu de melhor filme. O Prêmio Especial do Júri foi para o moçambicano As Noites Ainda Cheiram a Pólvora, de Inadelsso Cossa, sobre os rastros de memória da guerra civil no país africano.

Premiações defensáveis, mas o júri descartou outro filme de grande valor, Caminhos Cruzados, do sueco de origem georgiana Levan Akin, resgatado felizmente pelo júri popular, que mostrou mais juízo que o oficial. É um belíssimo filme, que trata de uma tia aposentada em busca da sobrinha transgênero, sumida na Turquia. Une elaboração cinematográfica a uma ternura sensível por suas personagens.

Já não sei mais quem disse que os festivais são como dramas (ou comédias) em três atos. O primeiro, é a seleção dos concorrentes. O segundo é como esses filmes se comportam ao longo do festival – se são bem recebidos ou não, se causam polêmica ou passam despercebidos, se geram discussão entre crítica e público, etc. O terceiro ato é a premiação, que molda o último perfil do festival, o retrato que ele deixará para a posteridade. Os dois primeiros atos do Olhar de Cinema foram muito bons. O terceiro deixou a desejar.

Mostra Competitiva Brasileira | Longas

Prêmio Olhar de Melhor longa-metragem
“Greice”, direção de Leonardo Mouramateus

Prêmio de Melhor Direção
“Tijolo por tijolo”, Victoria Alvares, Quentin Delaroche

Prêmio de Melhor Roteiro
“Greice”, Leonardo Mouramateus

Prêmio de Melhor Atuação
“Greice”, Amandyra

Prêmio de Melhor Direção de Arte
“Praia Formosa”, Ana Paula Cardoso

Prêmio de Melhor Direção de Fotografia
“Praia Formosa”, Flávio Rebouças

Prêmio de Melhor Som
“A mensageira”, Lucas Carvalho, Ana Penna, Vinicius Barreto, David Terra

Prêmio de Melhor Montagem
“Tijolo por tijolo”, Quentin Delaroche

Competitiva Brasileira | Curtas

Prêmio Olhar de Melhor Curta-metragem
“Caravana da Coragem”, direção de Pedro B. Garcia

Prêmio Especial do Júri
“Povo do Coração da Terra”, direção de Coletivo Guahu’i Guyra

Competitiva Internacional

Prêmio Olhar de Melhor longa-metragem
“Pepe”, direção de Nelson de los Santos Arias

Prêmio Especial do Júri
“As Noites Ainda Cheiram a Pólvora”, direção de Inadelso Cossa

Prêmio Olhar de Melhor curta-metragem
“Minha Pátria”, direção de Tabarak Abbas

Novos Olhares

Prêmio Olhar de Melhor longa-metragem
“Idade da Pedra”, direção de Renan Rovida

Prêmio do Público

Melhor longa-metragem
“Caminhos Cruzados”, direção de Levan Akin

Melhor curta-metragem
“Viventes”, direção de Fabrício Basílio

Prêmio da Crítica Abraccine

Melhor longa-metragem
“Tijolo por Tijolo”, direção de Victoria Alvares e Quentin Delaroche

Melhor curta-metragem
“Cavaram uma Cova no Meu Coração”, direção de Ulisses Arthur

Prêmio AVEC-PR Ari Candido Fernandes

Melhor filme
“Quarto Vazio”, direção de Julia Vidal

Menção Honrosa
“Baobab”, direção de Bea Gerolin

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