Sylvio Back 80 anos
Não raro, seus filmes são lançados sob o signo da polêmica. Ao completar 80 anos, o diretor catarinense Sylvio Back ganha
retrospectiva na Cinemateca Brasileira com seus remasterizados 12 longas-metragens. Sylvio Back 8.0 – Filmes Noutra Margem apresenta algumas facetas desse artista multifacetado – e controverso. Será útil para o cinéfilo conhecer, ou rever, essa obra em seu conjunto.
Back debruça-se com frequência sobre a História do Brasil, como naquele que talvez seja seu trabalho mais famoso – Aleluia, Gretchen (1976), saga de uma família de emigrantes alemães que, escapando ao nazismo, se instala numa cidade no sul do Brasil às vésperas da 2ª Guerra Mundial.
Aliás, é sobre a participação brasileira na 2ª Guerra, que Back faz seu trabalho mais polêmico, Rádio Auriverde (1991). O tom, puxado pela ironia, em que retrata a participação dos soldados brasileiros, valeu, na época do lançamento do longa, uma série de protestos dos antigos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que se sentiram ofendidos.
A vocação histórica (mas sempre carregada de uma intenção
contra-discursiva) o levou a outros conflitos nacionais como A Guerra dos Pelados (1971) sobre a Campanha do Contestado e Guerra do Brasil, sobre a Guerra do Paraguai (1987), no qual mistura documentário e ficção. Em 2010, Back retorna ao tema com Contestado – Restos Mortais, em que incorpora depoimentos de médiuns sobre o conflito, essa espécie de “Canudos do Sul”, sobre a luta de camponeses contra os poderes estaduais entre 1912-1916 na região fronteiriça entre Santa Catarina e Paraná. A inclusão de falas mediúnicas não submerge o filme no misticismo, mas introduz uma interessante variante de relato popular na interpretação do conflito.
Os aspectos ficcionais da obra de Back podem ser apreciados em seu longa de estreia, Lance Maior (1968), um retrato de classe média com o caso de amor entre um jovem bancário e uma moça rica. Há que se lembrar também de Lost Zweig (2003), uma produção internacional caprichada, que tem por protagonista o escritor austríaco Stefan Zweig, que se refugiou no Brasil durante a 2ª Guerra e acabou por se suicidar junto com sua esposa, Lotte, em Petrópolis. É baseado no livro Morte no Paraíso, do jornalista Alberto Dines.
Merece também um destaque o documentário Yndio do Brasil (1995), colagem de filmes nacionais e estrangeiros que se montam como uma visão panorâmica e heterogênea sobre os indígenas brasileiros.
Um Sylvio Back mais solto – e mais lírico – é encontrado em Cruz e Souza – O Poeta do Desterro (1999), sobre o introdutor do Simbolismo na literatura brasileira e considerado o grande poeta negro da língua portuguesa no século 19. O filme adota uma linguagem poética, retratando uma vida atormentada em 34 “estrofes visuais”.