São Miguel do Gostoso/RN
Daqui a pouco saem os vencedores da Mostra de Gostoso, em sua sexta edição. Não há júri oficial. Vota o público. E também há um prêmio da imprensa presente ao evento. Após a premiação será exibido o longa Noite Amarela, de Ramón Porto Mota, da Paraíba.
Escrevo umas poucas linhas sobre os dois outros longas-metragens apresentados na mostra competitiva – Vermelha, de Getúlio Ribeiro (GO), e Fendas, de Carlos Segundo (RN).
Vermelha é filmado com os familiares e amigos do diretor. Nem vale a pena falar muito da história, porque esta parece bastante desestruturada . Mas tem momentos interessantes. Há uma estranheza de base no projeto. Dois homens desenterram o toco de uma árvore destruída por um raio e, com muita dificuldade, o levam para casa. Então o enterram de novo no quintal. Há uma amizade viril entre um homem, Gaúcho, e outro, Pedro, um mecânico de automóveis. Brigam. Mas um sai em defesa do outro quando um grupo o ameaça fisicamente para que pague uma dívida.
Não adianta continuar descrevendo. Algumas cenas são bem filmadas (a defesa ao ataque do grupo), outras parecem toscas, como a da luta física entre os amigos.
Seria preciso esmiuçar mais o filme, em busca de camadas, que talvez estejam mais no olhar do intérprete do que da própria obra. Mas fica uma dúvida benevolente. O longa venceu a Mostra de Tiradentes.
Fendas é dirigido por um paulista radicado em Natal. Há uma personagem feminina, chamada Catarina, pesquisadora de física quântica, também recém-chegada em Natal. Uma personagem obviamente em busca de si mesma.
Pesquisa “espaços sonoros na imagem”. Não sei se isso existe, ou se é uma licença poética do diretor. Em todo caso, mantenho a dúvida, pois a física contemporânea chegou a um grau de inventividade que a supera a melhor ficção (isto é um elogio e uma reverência).
A cientista manda mensagens ao mundo, como, por exemplo, quando está no Forte dos Reis Magos, em Natal, e grita para o oceano que, se alguém a estiver ouvindo, mande um email para catarinapoiesis@gmail.com. Que o leitor espere o filme para saber se o chamado é respondido ou não.
Fendas tem momentos de inspiração, em especial nos que imerge nesses aspectos mais fantásticos da ciência contemporânea. Mas, como outras obras de ficção – cinematográficas ou não – não consegue aprofundar muito esse tema que exige grande nível de abstração. E uma sequencia importante, quando encontra o ex-marido, um francês, é de molde a decepcionar quem esperava algo de mais desestabilizador. Mais quântico, por assim dizer.