FORTALEZA – Do Equador veio para o Cine Ceará um filme até certo ponto desconcertante, O Invisível, de Javier Andrade.
Luisa (Anahí Hoeneisen, que também co-assina o roteiro, com o diretor) é uma mulher de 45 anos, que regressa à casa depois de uma internação em clínica psiquiátrica.
A casa é também um personagem importante dessa história. Uma mansão moderna e suntuosa, encravada na montanha, cercada de bosques, e com vista para a cidade distante que fica lá embaixo. Uma representação da burguesia de qualquer país e seu desejo de afastamento da plebe rude. Essa plebe, no entanto, a frequenta, sob a forma de serviçais que tornam possível a vida no casarão de concreto – chofer, arrumadeiras, cozinheiras e inclusive a velha nana, que amamentou e criou a hoje atormentada Luísa.
Esta tem problemas de todos os tipos, do alcoolismo à depressão pós-parto, cujos sintomas ameaçam a vida do filho recém-nascido.
O filme, fotografado em tons claros e com registro realista, especula sobre o processo de enloquecimento progressivo da mulher e de sua luta contra a perda da razão. Mas também faz um comentário social incisivo sobre o convívio entre os ricaços do país e os pobres que os servem, em geral de origem indígena.
Uma das cenas entre Luísa e o motorista lembra um pouco o clássico A Regra do Jogo, de Jean Renoir. Esse jogo de cartas marcadas jogado entre pobres e ricos e marcados pelo desfrute.
Gostei da maneira como a narrativa estrutura os diversos elementos da trama e a leva a um desfecho em aberto – e bastante comovente.