Aqui repito o procedimento adotado para melhores filmes estrangeiros para o blog: além dos dez da lista inicial, feita para o jornal, acrescento mais alguns que não queria deixar de fora. Por quê? Porque acho que se algum valor tem esse tipo de lista é servir de sinal para a meia dúzia de pessoas que fazem o favor de me ler. Assim: se o seu gosto coincide com o meu, não deixe de ver tal e tal filme quando ele passar diante de você. Seja no cinema (se ainda estiver em cartaz) ou em algum serviço de streaming ou programação de TV. Na relação abaixo, procuro lembrar de onde os vi pela primeira vez.
A Invenção do Outro, de Bruno Jorge. O vencedor do Festival de Brasília deste ano acompanha a expedição de contato com os índios Korubo, comandada pelo indigenista Bruno Pereira, depois assassinado junto com o jornalista Don Phillips. Sensorial, introspectivo e comovente, este documentário veio para marcar época em seu gênero. (Festival de Brasília)
Elis e Tom, Só Tinha de Ser Com Você, de Roberto de Oliveira. Estupendo making of de um dos discos célebres da MPB, aquele que reuniu Elis Regina e Antonio Carlos Jobim. Imagens fantásticas, diálogos inusitados entre os artistas e um panorama de época e mentalidade naquele longínquo 1974, quando o disco foi gravado em Los Angeles. (Mostra de Cinema de São Paulo)
Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta. Ficção distópica de um Brasil no futuro próximo. Mulheres vendem gasolina refinada a partir do petróleo desviado de oleodutos que passam no subsolo. As personagens são interpretadas por elas mesmas, num clima que lembra um Mad Max à brasileira, num país desconcertado e perdido de si mesmo. Porém com uma incrível energia interna que vem de suas camadas mais populares. (Mostra de Gostoso)
Marte Um, de Gabriel Martins. Ao focalizar uma família de classe média baixa em Contagem (MG), o filme aponta algumas saídas para a distopia brasileira, uma delas pela via da ternura. Disputou uma vaga na finalíssima para o Oscar de melhor filme internacional, mas não passou de fase. (Festival de Gramado)
Paterno, de Marcelo Lordello. Sérgio (Marco Ricca) é um arquiteto que tenta gentrificar um bairro popular no Recife e ganhar uma fortuna comprando casas dos mais pobres para implantar um resort. Rara imersão do cinema brasileiro na análise da classe dominante e sua mentalidade. Marco Ricca, excepcional. (Olhar de Cinema)
O Rio do Desejo, de Sérgio Machado. Baseado em conto de Milton Hatoum, traz a história de três irmãos (Daniel de Oliveira, Gabriel Leone e Rômulo Braga), que se entredevoram por uma mulher (Sophie Charlotte). Raro filme brasileiro sem complexos de ser hormonal e cheio de paixão. (Mostra de Cinema de São Paulo)
Fim de Semana no Paraíso Selvagem, de Severino. Rejane (Ana Flávia Cavalcanti) retorna à casa de praia onde foi criada para investigar a morte de seu irmão. Filme climático, com muitas camadas de interpretação, explora as relações entre as predatórias classes dominantes do país e o resto do povo. Mesmo sendo crítico, o filme trabalha sem clichês de classe ou raciais. (Fest Aruanda)
Fogaréu, de Flávia Neves. Fernanda (Bárbara Colen) volta para a fazenda em que foi criada e onde tensões familiares a esperam. Filme muito forte, de vocação feminista e muito bem interpretado por Bárbara Colen. (Mostra de Cinema de São Paulo)
Adeus, Capitão, de Vincent Carelli. O diretor refaz, ao longo de décadas, seu relacionamento de amizade com o líder gavião Krohokrenhum, o “capitão”. Líder carismático e com senso político, o Capitão morreu com mais de 90 anos e deixou um legado à sua gente. Um filme comovente e muito esclarecedor sobre a questão indígena e o relacionamento dos povos originários com os brancos. (É Tudo Verdade)
Sinfonia de um Homem Comum, de José Joffily. A incrível história do diplomata brasileiro José Maurício Bustani, que foi diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas. O filme mostra como Bustani foi afastado do seu cargo pelos Estados Unidos ao tentar impedir a invasão do Iraque sob o pretexto de que o país de Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, o que se revelou falso. Um iluminador mergulho nas trevas da geopolítica mundial e nas forças que a regem. (É Tudo Verdade)
A Jangada de Welles, de Firmino Holanda e Petrus Cariry. O documentário registra a tumultuada passagem de Orson Welles pelo Brasil para filmar o (inconcluso) It’s All True. Marca, também, a relevância cultural desse acontecimento, sempre pontuado pela relação do brasileiro consigo mesmo e com o Outro, estrangeiro. (No circuito comercial)
Noites Alienígenas, de Sérgio de Carvalho, produção do Acre que venceu o Festival de Gramado, com narrativa original, mostrando o contexto trágico da chegada das facções criminosas do sudeste à cidade de Rio Branco. (Festival de Gramado)
A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes. A reconciliação entre pai e filha num contexto que mescla afeto, visão do mundo progressista e linguagem cinematográfica inovadora. Amor + humor. (Cine Ceará)
Kobra – Autorretrato, de Lina Chamie. Não se trata apenas de um documentário sobre um artista visual, mas um ensaio, também visual e musical sobre a sua obra. Lindo de ver. (No circuito comercial)
Helen, de André Meirelles Collazzo. Avó (Marcélia Cartaxo) e neta (Thalita Machado) vivem em um cortiço, lutando pela sobrevivência. A dura realidade do povo brasileiro, sem coitadismos ou atenuantes. (Mostra de Cinema de São Paulo)
Dos 15 filmes listados vi oito e confio plenamente com sua escolha Zanin…
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