Cine Ceará 2022: Poroso e misterioso, Green Grass, um chileno com alma japonesa. Ou vice-versa


FORTALEZA – Passa rápido e ontem o Cine Ceará apresentou o penúltimo concorrente, o nipo-chileno Green Grass, dirigido por Ignacio Ruiz. Hoje à noite é a vez do último longa, o espanhol A Piedade. Depois, na quinta, vem a premiação e…a volta para casa, para as cabines da Mostra de São Paulo, que já está aquecendo as turbinas para o mega evento cinematográfico da cidade.

Green Grass, primeira co-produção entre Chile e Japão, me pareceu um ponto meio fora da curva na seleção deste ano do Cine Ceará. Totalmente fora da curva, para falar de forma reta. Lindamente fotografado, porém obscuro e ambíguo a ponto de ter suscitado inúmeras interpretações no final da sessão. Todas e nenhuma podem estar certas, se é que é o caso de falar em erros ou acertos nesse tipo de coisa.

Em todo caso, vemos logo de início imagens de um rapaz japonês, de uns 30 anos, completamente perdido numa praia desconhecida. Não sabe onde está e encontra personagens que com ele se comunicam em espanhol e fazem questão de em nada esclarecê-lo. Em paralelo, outro homem, este maduro, empresário no Japão, no que parece ser uma etapa de crise em que avalia seu relacionamento com as outras pessoas.

Tudo é muito misterioso. Seguimos assistindo ao filme, boiando no filme, no que parece ser uma interminável mar de citações de símbolos e referências culturais, inclusive cinematográficas, que vão do budismo ao chileno Raúl Ruiz e o tailandês Apichatpong Weerasethakul.

Parece ser um filme sobre o tudo e o nada – a morte, a vida, o tempo, a culpa, a expiação, a relação com os outros, a finitude, a ganância, a generosidade, etc e etc. Deus e sua época.

Grandioso em suas ambições, poroso em sua proposta estética, moroso em seu andamento, deixa uma imagem de beleza estética que talvez seja recompensada pelo júri. Quanto a mim, não consegui pagar a passagem e embarcar nessa estranha nave de Caronte.

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